Mitos e verdades
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 5% da população terá ao menos uma crise epilética na vida. Sendo que, no Brasil, grande parte dos pacientes ainda não tem um controle adequado das crises, tanto pelo despreparo dos profissionais da área da saúde como por desinformação da população. Por isso, com a ajuda do neurocirurgião Paulo Porto de Melo, colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (Missouri- EUA), introdutor e pioneiro da neurocirurgia robótica no Brasil, esclarecemos o que é mito e o que é verdade a respeito do distúrbio, para acabar de vez com qualquer desconhecimento:
Durante uma crise devemos impedir que o paciente engula sua própria língua.
MITO. Esse é um erro comum e perigoso. A língua não enrola e o paciente não é capaz de engoli-la. Não se deve em hipótese alguma introduzir os dedos dentro da boca do paciente, pelo risco de lesões graves nos dedos, e tampouco introduzir objetos rígidos, pelo risco de lesões dentárias e gengivais graves. “O correto é virar o paciente de lado, protegê-lo, deixar que a saliva escorra e aguardar calmamente que a crise acabe, o que ocorre geralmente antes de 3 minutos”, esclarece Melo.
As crises podem ser bem controladas com medicamentos.
VERDADE. O uso regular de uma ou duas medicações é capaz de controlar adequadamente as crises em 70% dos casos. Muitos dessas medicações são distribuídas gratuitamente na rede pública.
Convulsão e ataque epiléptico são sinônimos.
MITO. A convulsão é apenas um tipo de ataque epilético. “A convulsão é aquele tipo mais intenso, no qual o paciente perde os sentidos e se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa. No entanto, existem crises mais fracas, caracterizadas por breves desligamentos, formigamentos ou contrações restritas a alguns grupos musculares. Se ocorrerem de maneira recorrente, configuram epilepsia”, diz o neurocirurgião.
Epilepsia tem tratamento, mas não tem cura.
MITO. Existe a possibilidade de cura em alguns casos, por exemplo, se o paciente ficar muito tempo sem ter crises (mínimo de dois anos) e a medicação for descontinuada sem recorrências; com um procedimento cirúrgico que retira a causa das crises; pelo próprio amadurecimento do cérebro em alguns tipos de epilepsias infantis.
A saliva durante uma convulsão pode transmitir a doença.
MITO. A epilepsia não é uma doença contagiosa. Melo garante que o contato com a saliva do paciente de maneira alguma torna a outra pessoa epilética. “No entanto, a saliva pode transmitir (mesmo que raramente) algumas doenças infecciosas. Por isso, não é recomendado o contato desnecessário com a saliva de um desconhecido sem mecanismos de proteção”, afirma.
Devemos dar dose extra do remédio ao paciente quando ocorre uma crise.
MITO. As medicações devem ser mantidas nos horários acertados pelo médico. Não se deve dar remédio extra durante ou logo após a crise, nem passar água fria e muito menos álcool no rosto do paciente, pois são medidas absolutamente sem efeito.
Pacientes com epilepsia têm dificuldades mentais.
MITO. A maioria dos pacientes com epilepsia tem inteligência absolutamente normal, alguns até acima da média. Uma pequena parcela apresenta patologias que causam dificuldade intelectual associada às crises.
O paciente com epilepsia pode levar uma vida normal.
VERDADE. Pacientes bem controlados podem e devem trabalhar, praticar esportes, casar, ter filhos, etc. Até mesmo dirigir o paciente pode após 2 anos de controle e bom seguimento clínico.