O QUE É UMA ÚLCERA?
A úlcera é uma área focal da mucosa(pele que recobre desde a boca até o ânus ) do aparelho digestivo que foi destruída pelos sucos digestivos. No caso da úlcera gástrica ou duodenal , a destruição é feita pelo ácido produzido pelo estômago. A grande maioria das úlceras não são maiores que um grão de ervilha apesar disso podem causar grande descomforto e dor. No alto à esquerda visualiza-se um corte microscópico de uma úlcera onde a porção roxa mais escura representa a mucosa que está interrompida . Abaixo à direita vê-se uma radiografia demonstrando o local da úlcera. Ao centro, a representação da úlcera propriamente dita. No caso uma úlcera gástrica.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA ÚLCERA?
O sintoma mais comum é uma sensação de dor tipo queimação ou vazio na boca do estômago (região epigástrica). A dor geralmente ocorre entre as refeições e algumas vezes acorda o paciente durante a noite. Pode durar durante minutos ou horas e geralmente alivia quando o paciente se alimenta ou faz uso de anti-ácidos. Outros sintomas menos comuns incluem náusea , vômitos , perda do apetite e peso.
QUAIS SÃO AS COMPLICAÇÕES DAS ÚLCERAS?
Hemorragia: O sangramento de uma úlcera pode ocorrer tanto no estômago como no duodeno sendo algumas vezes o primeiro sinal de suas existência. O sangramento pode ser lento causando uma anemia crônica e fadiga constante. Ou rápida podendo levar o paciente a Ter vômitos enegrecidos como “borra de café” ou evacuações enegrecidas e fétidas. ( o sangue sofre digestão e sua aparência torna-se enegrecida)
Perfuração: Quando as úlceras não são tratadas , o suco digestivo e ácido gástrico pode literalmente corroer a parede do estômago ou duodeno levando a uma perfuração. Derramamento abrupto de suco digestivo com ácido e alimento pode levar a uma dor intensa, aguda com necessidade de cirurgia de emergência pela presença de uma peritonite.
Obstrução: A presença da inflamação crônica de uma úlcera pode causar um inchaço local e cicatrização levando a diminuição do espaço por onde o alimento passa. Este fenômeno leva o paciente a ter vômitos tardios ( vomita conteúdo do almoço do dia anterior) e emagrecimento.
COMO AS ÚLCERAS SÃO DIAGNÓSTICADAS?
Sem dúvida atualmente o exame mais indicado é a endoscopia digestiva. Este constitui na inserção de um fino tubo, com uma luz na sua extremidade, através da boca até o esôfago, estômago e finalmente duodeno. É realizada com o uso de medicações sedativas . Durante o exame podem ser realizadas biópsias. A biópsia não causa qualquer dor ou desconforto e geralmente é do tamanho de uma cabeça de fósforo.
TESTES PARA O HELICOBACTER PYLORI
Existem vários testes atualmente disponíveis para se descobrir a presença de bactéria. Pode ser realizado um exame de sangue onde se verifica a presença de anti-corpos contra a bactéria; um teste respiratório onde se verifica a presença da bactéria pelos produtos formados de seu metabolismo e um terceiro método é através da biópsia realizada durante as endoscopias.
QUANDO É NECESSÁRIO A CIRURGIA?
A imensa maioria das úlceras são tratadas através de medicamentos. Quando são necessários múltiplos tratamentos sem sucesso ou existem complicações como sangramento constante, perfuração ou obstrução , a cirurugia é cogitada.
Úlcera Péptica
É uma lesão mais profunda no estômago ou no duodeno (ultrapassando a camada muscular da mucosa) que se apresenta ao paciente na forma de dor epigástrica (dor tipo fome), tipicamente em queimação, podendo ser acompanhada de náuseas e vômitos. Alguns pacientes chegam a acordar à noite com dor epigástrica. Também é comum a história de que a dor alivia quando o paciente se alimenta.
A úlcera péptica é atualmente mais comum no duodeno e no sexo masculino.
Os fatores predisponentes são: genéticos, psicossomáticos (difíceis de serem avaliados), uso do tabaco, fatores dietéticos (refrigerantes, álcool, café, leite, álcool e condimentos). O uso de medicamentos como antiinflamatórios não esteróides, e corticóides aumentam a chance do indivíduo vir a desenvolver úlcera péptica.
Existe comumente uma associação de úlcera gástrica e gastrite crônica.
Apesar de fisiologicamente a úlcera duodenal ser diferente da úlcera gástrica, o diagnóstico e o tratamento são semelhantes.
As úlceras não tratadas convenientemente podem complicar de 3 formas: hemorragia, estenose (estreitamento do piloro) ou perfuração para cavidade peritoneal.
O diagnóstico é feito usualmente com endoscopia digestiva alta e biópsia da mucosa gástrica na região da úlcera.
O tratamento, em princípio é clínico, com uso de drogas poderosas que inibem a secreção ácida produzida no estômago. No caso de não resposta do paciente ao tratamento clínico, atualmente existe a possibilidade do tratamento cirúrgico laparoscópio para correção das úlceras (vagotomia).
A bactéria causadora de úlceras e tumores no estômago
Helicobacter pylori
O que é?
É uma bactéria de formato espiral que está presente em grande número de pacientes com gastrite e em torno de 95% de pacientes com úlcera duodenal. Ela vive abaixo da camada de muco (tipo de saliva que os órgãos do aparelho digestivo produzem) para se protegerem da ação ácida do estômago, a qual não resistiriam. Ou ainda entre as células do estômago. Tem preferência por um tipo especial de célula gástrica que se encontra no antro gástrico (porção do estômago antes do duodeno).
Como é transmitida?
Fortes evidências mostram que aproximadamente 50% da população mundial têm esta bactéria.
A grande maioria das pessoas adquire na infância. Quanto mais baixa a condição sócio-econômica maior a incidência de infecção da bactéria.
Não é transmitida através de animais.
O ser humano é o único portador desta espécie, portanto o meio de transmissão é através de pessoas contaminadas.
Quais são os sintomas?
Os sintomas são variados.
A pessoa pode não ter qualquer sintoma ou apresentar sintomas chamados dispépticos como náusea, inapetência, estufamento, digestão difícil dos alimentos, gases, etc.
Outros sintomas incluem dor intensa tipo queimação ou vazio na boca do estômago geralmente secundário a uma gastrite ou úlcera que pode ser gástrica ou duodenal.
Por que variam tantos os sintomas?
Acredita-se que a bactéria sozinha não é capaz de causar a doença pois existe um número considerável de pessoas que estão infectadas e não tem qualquer sintoma ou doença.
Outros fatores associados podem desencadear o início da doença como idade, tabagismo, fatores genéticos, nível de secreção ácida do estômago, dieta, e muitos outros. O importante é saber que o tratamento não muda conforme esses fatores.
Como é feito o diagnóstico?
Existem 4 métodos mais utilizados:
- Através de uma biópsia durante o exame endoscópico. Este fragmento pode ser:
- Encaminhado a um serviço especializado de patologia clínica onde é examinado através de um microscópio; este exame leva alguns dias, ou
- Ser introduzido numa espécie de líquido ou gelatina que contém reagentes que mudam de cor devido a produtos químicos que a bactéria produz. Algumas horas depois já é possível saber se a pessoa está ou não com a bactéria. É um exame que apresenta uma eficácia de aproximadamente 98%
- Outra maneira é através de um exame de sangue onde é verificada a presença de anticorpos contra a bactéria. O problema é que depois do tratamento não é possível repetir este exame, pois os anticorpos que produzimos ficam para sempre. São chamadas cicatrizes imunológicas.
- O terceiro método bastante utilizado é chamado de teste respiratório. A pessoa precisa ingerir uma substância específica sensível a presença da bactéria que é transformada, absorvida e eliminada através da respiração. É então solicitado para o paciente respirar num pequeno tubo que detecta a presença desta substância. É considerado um exame bastante preciso e sem riscos.
Existe alguma relação da bactéria com o câncer de estômago?
Sabe-se que um grande número de pacientes com câncer de estômago, principalmente alguns tipos em especial, tem a bactéria presente. Porém não existe qualquer comprovação direta da associação do helicobacter pylori com o câncer de estômago. A maioria dos trabalhos científicos são puramente especulativos e sem fundamento. Pesquisas continuam sendo realizadas neste sentido.
Como é feito o tratamento?
O tratamento é feito com vários esquemas antibióticos. O seu médico, através de critérios pessoais deverá escolher o melhor para você.
Para se ter uma idéia da importância do tratamento, pessoas não tratadas da bactéria tem chance de voltar a ter úlcera ou gastrite em um ano, em torno de 80 a 95%. Pessoas tratadas têm próximo de 1% de chance de voltar.
Como sei se estou curado?
Após 30 dias cessado o tratamento:
- Através do teste respiratório
- Através da biópsia
Fonte: Drª Eloiza Quintela.