Terapia celular em cardiologia

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A terapia celular é uma das grandes esperanças da medicina, mas ainda apresenta alguns dilemas éticos e precisa de tempo para ser mais bem estudada.

Aplicada à Cardiologia, a terapia celular foi objeto de muitos anseios em 2001. Na época ganhou grande impulso em razão da publicação, pela respeitada Revista Nature, de trabalhos indicando que alguns tipos de células-tronco poderiam regenerar e promover melhoras significativas do miocárdio – o tecido muscular do coração.

“O alarido foi tamanho que no ano seguinte à publicação havia relatos de trabalhos clínicos com diferentes tipos de células-tronco”, explica o dr. Alexandre Holthausen Campos, cardiologista e pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP). Normalmente, o tempo que se leva da pesquisa até sua aplicação clínica é de 10 anos.

Foco na segurança

“Os pesquisadores reuniam pequenos grupos de pacientes, que não eram sorteados e não se utilizavam placebos. Essas características não são as de grandes estudos clínicos porque o objetivo era avaliar o grau de segurança”, continua o pesquisador.

Apesar de não ser o foco da pesquisa, os resultados mostraram-se bastante promissores. Foram registradas melhoras das funções do coração, redução na gravidade de insuficiência cardíaca e redução da gravidade de angina (problema causado pelo estreitamento das artérias que conduzem sangue ao coração).

Resultados controversos

Conforme as pesquisas se aprofundavam, os resultados mostravam um cenário diferente do esperado pelos cientistas.“Algo que chamava bastante a atenção era o fato de que diversos tipos de células-tronco colocadas no coração funcionavam: foram testadas células da medula e do cordão umbilical, entre outras”, comenta o dr. Holthausen.

Em 2004, a Revista Nature novamente publicou dois estudos experimentais, dessa vez contestando os artigos de 2001. “O editorial daquela edição afirmava que se tinha ido para a aplicação clínica rápido demais”, afirma o pesquisador. Faltaram mais estudos básicos e experimentais que norteassem adequadamente as aplicações.

Aprimoramento dos estudos

Com a publicação dos novos estudos, os pesquisadores reviram conceitos e começaram a aplicar os métodos convencionais de pesquisa, por meio de grandes estudos clínicos que tinham como objetivo medir a segurança e também a eficácia clínica da terapia celular.

“Os trabalhos passaram a ter grupo-controle, os pacientes foram randomizados, receberam placebos, ganharam acompanhamento de forma cega – ou seja, o médico que fazia a análise do paciente não sabia se ele tinha recebido células-tronco ou placebos – e o mais importante: as pessoas foram estudadas por períodos mais longos”, explica o dr. Holthausen.

Nesse contexto, os resultados das pesquisas passaram a ser medidos de forma mais objetiva. Até então, eram obtidos principalmente pela análise dos sintomas.

Panorama atual

Os resultados mais recentes sobre Terapia Celular aplicada à Cardiologia foram publicados no New England Journal of Medicine , outro dos mais respeitados periódicos entre os médicos.

“Os estudos atuais mostram que do jeito que vinha sendo feita, a terapia celular não apresentaria benefícios ou os benefícios seriam pequenos”, comenta o pesquisador.

Segundo o dr. Holthausen, o que houve não deve ser considerado um recuo nas pesquisas, mas o conserto de uma situação anômala, que foi a aceleração inadequada entre 2002 e 2005. “Não sei se foi uma precipitação e acho que ninguém tem condições de julgar os pesquisadores. Apenas acredito que tudo deveria ter sido feito com mais cautela e planejamento”.

Os pesquisadores deram um passo atrás e voltaram a analisar os estudos experimentais para chegar a uma série de conclusões, entre as quais: o tipo ideal de célula-tronco a ser utilizado e se a célula deve ou não ser tratada antes do implante no paciente.

No caso do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), que é o problema mais estudado em Terapia Celular aplicada à Cardiologia, o que os pesquisadores precisam definir agora é em quanto tempo, após do infarto, as células devem ser implantadas, qual a grandeza desse infarto e o tipo de paciente ideal para receber o tratamento.

Pesquisa no Einstein

Em 2006, a equipe de pesquisadores do IIEP começou a desenvolver protocolos de estudos experimentais direcionados à Cardiologia. As células analisadas são provenientes do sangue de cordões umbilicais que não têm o número de células suficientes para utilização clínica – como para transplantes – e, portanto, seriam descartadas.

A célula utilizada é chamada de mesenquimal e possui características que a tornaram objeto de estudo no mundo todo. “Já foi comprovado que ela tem propriedade de se diferenciar em outros tipos celulares, como gordura, cartilagem, ossos e músculos”, conta o dr. Holthausen.

Também são capazes de se expandir sem perder as características originais de células-tronco quando cultivadas in vitro – o que garante número satisfatório para a execução dos experimentos – além de terem baixa reação imunológica para o receptor.

Os pesquisadores conseguiram isolar algumas dessas células, mas ainda não estabeleceram o perfil ideal para aplicação em seres vivos. Após essa definição, o próximo passo será iniciar estudos em animais de médio porte, como porcos. Ainda não há previsão para a chegada a esse estágio.

“Imaginamos que, no futuro, consigamos ter um tipo de célula que fique congelada e possa ser utilizada no momento necessário e que seja possível fazer transplante alogênico, ou seja, de uma pessoa para outra”, planeja o pesquisador.

Publicada em fevereiro/2007

 

Fonte: Hospital Israelita Albert Einstein.

 

Colaboração
KipCor – Cirurgiões Cardiovasculares

www.kipcor.com.br

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