17 mitos e verdades sobre a cirurgia bariátrica
Esclarecemos as questões mais importantes sobre a cirurgia bariátrica, procedimento cada vez mais procurado no país
Para muitas mulheres, lutar contra a balança é mais do que uma questão estética. Significa viver melhor. Num país em que os índices de obesidade crescem – hoje 18% das brasileiras pesam muito mais do que deveriam -, as cirurgias de redução de estômago estão cada vez mais populares. Mas os médicos alertam: este deve ser o último recurso para quem quer emagrecer. Afinal, é uma solução radical. “A cirurgia bariátrica deve ser vista como parte de um programa que envolve mudança de hábito, reeducação alimentar e prática frequente de atividade física”, diz Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Além disso, há outras questões que você deve conhecer antes de encarar a mesa de cirurgia. Confira os principais mitos e verdades sobre a redução de estômago.
- QUALQUER UM PODE FAZER UMA CIRURGIA BARIÁTRICA.
Mito
– A redução do estômago é indicada para pacientes a partir de 16 anos que têm o índice de massa corpórea, o chamado IMC, acima de 40 kg/m², com ou sem doenças associadas, como diabetes, hipertensão, e entre 35 e 40 kg/m², com doenças associadas. É preciso também que o paciente tenha tentado emagrecer sem sucesso por dois anos, em média, com dieta, exercícios físicos e medicamentos.
- NÃO EXISTE CONTRAINDICAÇÃO
Mito
– A cirurgia não pode ser realizada em pacientes portadores de doenças psiquiátricas que impeçam a adesão ao tratamento pós-cirúrgico, usuários de drogas e alcóolatras, pacientes que sofrem de compulsão alimentar e em quem tem doença cardíaca em estágio avançado.
- QUEM FEZ REDUÇÃO DE ESTÔMAGO NÃO PODE ENGRAVIDAR
Mito
– A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica recomenda que as mulheres procurem engravidar dois anos após a cirurgia. Engravidou? Informe o médico que a acompanhou durante todo o processo de tratamento.
- VOCÊ EMAGRECE BEM MAIS NOS SEIS PRIMEIROS MESES APÓS A CIRURGIA.
Verdade
– “No começo, o seu metabolismo queima mais gordura”, diz o cirurgião bariátrico João Luiz Azevedo. O emagrecimento total acontece em até dois anos. A expectativa é que se perca de 30 a 40% do peso inicial.
- OS PLANOS DE SAÚDE E O SUS DEVEM COBRIR A CIRURGIA BARIÁTRICA.
Verdade
– Quem depende do SUS para realizar a cirurgia, porém, pode ter que esperar algum tempo na fila. O Ministério da Saúde não tem o registro, mas “pode levar até sete anos para o paciente ser operado”, diz Azevedo. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos de saúde, o período de carência para cirurgia é de até seis meses.
- DÁ PARA COMER COMO ANTES E ENGORDAR TUDO NOVAMENTE.
Depende
– A pessoa não vai comer como antes, mas se tomar uma lata de leite condensado inteirinha numa refeição, poderá engordar novamente sim. “A paciente volta a ganhar peso se consumir alimentos calóricos, como frituras e açúcares. Mas é raro quem recupera todo o peso”, afirma Ramos.
- A PACIENTE TERÁ NECESSARIAMENTE DE FAZER PLÁSTICAS PARA RETIRAR O EXCESSO DE PELE.
Mito
– “Com um bom programa nutricional e atividade física, quem perde de 25 a 35 kg não precisa se submeter à cirurgia, mas isso varia de acordo com cada paciente”, diz Ramos. Ele afirma também que quem é mais jovem tem vantagens, pois a pele é mais elástica.
- DÁ PARA FAZER PLÁSTICAS E TIRAR O EXCESSO DE PELE LOGO APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA.
Mito – Você terá de lidar com o excesso de pele, em média, por dois anos. “O ideal é que a paciente perca todo o peso esperado e esteja bem para ser operada novamente”, diz o cirurgião Denis Pajecki.
- PLANOS DE SAÚDE E O SUS DEVEM COBRIR PROCEDIMENTOS REPARADORES.
Verdade
– Segundo a ANS, os planos só precisam cobrir plásticas na região do abdômen. E o paciente ainda tem de apresentar complicações, como candidíase de repetição, infecções bacterianas devido ao atrito de pele, etc. Tanto no serviço público quanto no privado, é preciso indicação médica. E não custa dizer: leia o contrato do plano de saúde para não ter surpresa depois.
- SÓ EXISTE UM TIPO DE CIRURGIA PARA REDUZIR O ESTÔMAGO.
Mito – Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, há quatro tipos de técnicas aprovadas no Brasil. Conheça cada uma delas abaixo.
- A CIRURGIA BARIÁTRICA É MUITO CARA.
Verdade
– Quem pensa em arcar o valor da cirurgia com grana do próprio bolso terá de pagar, em média, de R$ 20 mil a R$ 40 mil. “É preciso pagar a equipe médica e todo o equipamento cirúrgico”, diz Azevedo.
- É IMPORTANTE O ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO ANTES E APÓS A CIRURGIA.
Verdade
– A avaliação psicológica é importante para saber se o paciente tem expectativas reais com relação à cirurgia , se não está num momento de depressão ou estresse muito grande ou se tem algum outro problema que possa atrapalhar o tratamento, explica a psicóloga Marilice Rubbo de Carvalho. Durante as sessões, é investigado o que levou essa pessoa a engordar, já que normalmente essas pessoas não fazem a menor ideia. Não adianta fazer a cirurgia se não mudar a estrutura que provocou a obesidade, afirma Marilice. Por isso, alguns médicos recomendam também que o paciente tenha acompanhamento psicológico após a cirurgia.
- A CIRURGIA BARIÁTRICA É MAIS ARRISCADA QUE OUTRAS CIRURGIAS.
Mito
– Segundo Pajecki, durante a operação, os riscos de complicações, como um problema cardiológico, é igual ao de qualquer outro procedimento cirúrgico abdominal. No pós-operatórias, complicações leves e graves ocorrem em 4% dos casos. “Nos primeiros 30 dias, pode haver sangramento interno, infecções e complicações clínicas, como trombose”, diz. A médica nutróloga Sandra Fernandes afirma que, dependendo da técnica operatória, podem ocorrer vômitos ou diarreias. A média ou longo prazo, as complicações estão ligadas a desnutrição, osteoporose e carência de vitaminas e minerais, afirma.
- É PRECISO FAZER EXERCÍCIOS APÓS A CIRURGIA.
Verdade – “Os exercícios potencializam o emagrecimento, evitam o ganho de peso e reduzem a perda de massa muscular”, diz Pajecki.
- ENGORDAR É UM BOM CAMINHO PARA FAZER A CIRURGIA.
Mito – “Quem quer ganhar 10, 15 kg rapidamente para se submeter a uma cirurgia põe a vida em risco”, diz Ramos.
- O APOIO DA FAMÍLIA É ESSENCIAL.
Verdade – Todos que convivem com o paciente precisam colaborar. Se a família tem uma alimentação gordurosa, não vai dar para continuar assim! A família deve mudar os hábitos, além de dar apoio e não fazer cobranças exageradas.
- AS UNHAS PODEM FICAR QUEBRADIÇAS E O CABELO PODE CAIR APÓS A CIRURGIA.
Verdade – “Isso pode acontecer nos primeiros meses, quando a perda de peso é mais intensa. Mas dá para resolver com suplemento vitamínico”, diz Pajecki.
- CIRURGIAS BARIÁTRICAS E METABÓLICA SÃO AS MESMA COISA?
Não exatamente. Apesar de serem procedimentos muito similares, muitas vezes realizados com a mesma técnica cirúrgica (como o bypass gástrico), as cirurgias bariátrica e metabólica possuem objetivos muito diferentes, que devem ser levados em conta pela equipe médica e também pelo paciente. A bariátrica, por exemplo, tem como foco a redução do peso, enquanto a metabólica destina-se ao controle do diabetes.
O conceito de cirurgia bariátrica também é mais antigo, uma vez que a técnica foi introduzida no mundo há mais de 50 anos e é repetida no Brasil há pelo menos 20. A metabólica, por sua vez, é mais recente e recebe esse nome devido a transformações endócrinas pelas quais o paciente passa após a intervenção cirúrgica, com alterações na síntese de hormônios responsáveis pelos níveis de açúcar no sangue.
- A DEPRESSÃO É UMA CONSEQUÊNCIA COMUM PARA QUEM FAZ A CIRURGIA?
Não existe uma tendência. Se o paciente ficar deprimido, isso pode ocorrer devido a fatores desconhecidos, que devem ser investigados por psicólogo ou psiquiatra da equipe multidisciplinar.
- HÁ TENDÊNCIA À ANEMIA NO PÓS-OPERATÓRIO?
Entre os pacientes, as mulheres têm maior tendência à anemia, por causa da menstruação, perda de ferro e pouca presença de carne vermelha na dieta. Essa situação pode ser minimizada com a ingestão de alimentos ricos em ferro, ou, se necessário, com a utilização de suplementos vitamínicos.
CONHEÇA AS TÉCNICAS DE CIRURGIA BARIÁTRICA
Bypass gástrico: é a técnica mais realizada no país. O estômago é grampeado e, depois, ligado diretamente ao intestino. “É um método eficiente e com baixo índice de complicações”, diz Pajecki. É indicada para quem tem cerca de 50 kg de excesso de peso, associados com diabetes, colesterol e triglicérides alta.
Gastrectomia vertical: a técnica consiste em fazer do estômago uma espécie de tubo, com capacidade de cerca de 150 ml. Ao reduzir o espaço, o paciente é obrigado a comer pequenas refeições. “O resultado é bom, mas não é melhor que o bypass”, diz Ramos. É indicada para quem tem de 30 a 40 kg de excesso de peso, come em grandes quantidades, mas não tem doenças associadas.
Banda gástrica ajustável: coloca-se um anel de silicone ajustável no início do estômago, o que desacelera a digestão. “É cada vez menos usada, pois a perda de peso é menor e demanda muito cuidado pós-operatório”, diz Pajecki.
Duodenal Switch: Assim como na gastrectomia vertical, o estômago é reduzido. Nesta técnica, aumenta-se o desvio intestinal. O paciente come menos e o corpo absorve menos alimentos também. A técnica, indicada para pacientes que tem alguma doença no estômago, é cada vez menos utilizada nas clínicas, pois o risco de problemas nutricionais, como episódios de diarreia, é maior.
Fontes: João Luiz Azevedo, membro do departamento de Cirurgia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp); Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM); Dr. Denis Pajecki, diretor do Departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) ; Sandra Lucia Fernandes, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran); Marilice Rubbo de Carvalho, psicóloga.
Referências: Médicos, livros e site de saúde.
Leia mais sobre cirurgia bariátrica no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica