A obesidade infantil é a doença crônica que mais prevalece na população infantil, atingindo uma em cada três crianças no Brasil. Nos EUA a situação é ainda mais grave, e talvez, pela primeira vez na história, as crianças norte-americanas poderão ter uma expectativa de vida menor do que a dos seus pais devido aos quadros de obesidade. Apesar de as causas poderem ser genéticas, 95% dos casos estão ligados à falta de atividades físicas e à alimentação incorreta, com excesso de gorduras e açúcares.
Filhos de pais obesos possuem muito mais chances de desenvolver o problema, já que podem adquirir dos pais os maus hábitos alimentares. Mas a questão vai além dos quilinhos a mais, que atrapalham a vida social da criança. “A obesidade pode trazer uma série de fatores de risco associados a ela e reduzir a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes”, explica Maria Edna de Melo, doutora em endocrinologia pela USP e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

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1) CÉREBRO
Crianças obesas têm mais chances de desenvolver um quadro em que o fluido que envolve o cérebro aumenta em quantidade, o que eleva, por consequência, a pressão no órgão. Ainda não se sabe ao certo por que isso acontece, mas o problema pode causar dores de cabeça severas, visão embaçada e náuseas. Alguns estudos sugerem também que crianças obesas são mais propensas a apresentar lesões cerebrais similares às de pacientes com Alzheimer (Obesidade infantil).
2) OLHOS
Pessoas obesas têm o dobro de chances de se tornarem completamente cegas devido à maior propensão em desenvolver diabetes tipo 2. Pacientes obesos também têm maior dificuldade em combater os radicais livres, o que prejudica a capacidade de regeneração das células. Na retina, isso pode levar à degeneração da mácula – uma pequena região responsável pela visão de detalhes (Obesidade infantil).
3) CORAÇÃO
O excesso de peso pode expandir o volume total de sangue, forçando o coração a trabalhar mais. Conforme envelhecemos, isso vai se tornando ainda mais difícil. Em alguns casos, o tamanho do músculo cardíaco e do átrio esquerdo pode ser maior entre as crianças obesas, o que afeta a capacidade do coração de se encher de sangue, levando a um aumento no bombeamento cardíaco (Obesidade infantil).
4) PULMÕES
A gordura na região do tórax pode pressionar os pulmões contra o diafragma, dificultando sua expansão durante a absorção de oxigênio. É por isso que crianças obesas podem sentir falta de ar, mesmo estando paradas. Elas também têm de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver apneia do sono, uma interrupção da respiração enquanto dormem. Isso aumenta os riscos de infarto e AVC (Obesidade infantil).
5) FÍGADO
A gordura no fígado, comumente encontrada em adultos que consomem muito álcool ou alimentos gordurosos , agora ocorre em um terço de garotos e garotas. No curto prazo, ela pode levar a dores abdominais, infecções e fadigas. No longo, está relacionada à cirrose, ao câncer de fígado e à falência hepática(Obesidade infantil).
6) PÂNCREAS
Com a obesidade, a insulina (que ajuda a levar o açúcar para dentro das células) não funciona normalmente. Não se sabe exatamente como isso acontece, mas as células ficam resistentes à ação da insulina, levando ao acúmulo de açúcar no sangue. Com isso, a diabete pode se desenvolver. A do tipo 2 danifica os vasos sanguíneos, reduzindo a longevidade de 10 a 20 anos, em média(Obesidade infantil).
7) HORMÔNIOS
A leptina é um hormônio produzido pelas células de gordura (adipócitos). Quanto mais adipócitos, mais leptina. Meninas obesas podem iniciar seu período menstrual mais cedo, porque a leptina influencia diretamente a produção de estrógeno e progesterona pelos ovários. Como as meninas geralmente param de crescer dois anos após a primeira menstruação, obesas podem acabar não atingindo seu potencial de crescimento(Obesidade infantil).
8) OSSOS
Nas crianças, existem estruturas localizadas nas extremidades da maioria dos ossos chamadas de placas de crescimento. São espécies de cartilagem que fazem com que os ossos estiquem à medida que as pessoas crescem. Nas crianças obesas, o osso e a cartilagem não são fortes o suficiente para lidar com esse excesso de peso e se tornam instáveis, podendo causar dores e sobrecarga nos ossos.
9) VASOS SANGUÍNEOS
O sobrepeso na infância é considerado o principal fator de risco para a elevação da pressão arterial em crianças e adolescentes. Crianças gordinhas possuem de duas a quatro vezes mais chances de desenvolver hipertensão arterial e colesterol se comparadas a uma população infantil com peso adequado, o que leva a um aumento do risco de parada cardíaca (Obesidade infantil).
CONSULTORIA Luciana Cristante Izar Marino, endocrinopediatra do Centro de Obesidade do Hospital Infantil Sabará
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) alertam para o agravante cenário da obesidade no Brasil. E, quando se trata de obesidade infantil, os números são cada vez mais preocupantes: aproximadamente 15% das nossas crianças, na faixa etária entre os 5 a 9 anos, estão acima do peso. Estima-se ainda que na próxima década cerca de 60% da população brasileira estará acima do peso (Obesidade infantil).
Quando o pediatra se depara com caso de sobrepeso ou obesidade em seus pacientes, solicita alguns exames laboratoriais com o intuito de detectar ou afastar causas somáticas da alteração. Problemas como déficit do hormônio do crescimento e hipotireoidismo podem estar relacionados (Obesidade infantil).
Vale lembrar que também há uma relação direta das horas de sono de uma criança com a obesidade. Alguns trabalhos têm demonstrado que o aumento de uma hora no sono das crianças abaixo de oito anos pode diminuir significantemente as chances de sobrepeso e obesidade. Isto ocorre devido a alterações nos hormônios relacionados à fome e à saciedade, que ocorrem quando a criança tem menos horas de sono diariamente (Obesidade infantil).
Uma vez afastadas tais causas, passa-se para uma orientação (ou reeducação) alimentar no sentido de corrigir o problema. E percebemos em consultório que um dos principais motivos para este cenário de obesidade no Brasil é a alimentação inadequada. Sempre alerto que os pais e cuidadores devem ficar atentos quanto à alimentação saudável das crianças, além do incentivo à prática do esporte. Devemos educá-las para uma boa alimentação desde a infância, para termos efeitos que são essenciais para a saúde e o bem-estar ao longo da vida (Obesidade infantil).
Alimentação dos pequenos merece um ingrediente importante: exemplo e incentivo dos pais. De nada adianta os pais quererem que seus filhos comam legumes, frutas e vegetais se não tiverem o hábito de consumo destes alimentos. Para as crianças sentirem vontade em ingerir alimentos saudáveis é indispensável que elas sintam-se motivadas. Por isso, pais e mães são as principais fontes de incentivo e exemplo (Obesidade infantil).
Uma sugestão que dou é que pais, mães, avós, cuidadores levem as crianças ao supermercado para fazer compras. Mostre os alimentos saudáveis, suas propriedades nutritivas e como elas contribuem para o seu bom crescimento. Essa interação estimula a criança e faz com que ela sinta vontade de obter tudo que há de bom desses nutrientes apresentados.
Outra atividade que pode contribuir para a alimentação dos pequenos é que os pais “brinquem” com o prato do seu filho, deixando-o colorido. Toda criança adora cor, e isso também serve de estímulo, além de fazer da hora da refeição um momento mais descontraído. Isso vale para receitas criativas, em que os nutrientes são disfarçados em bolos e tortas. Deixe seu filho primeiro experimentar, sentir o gosto e somente depois você diz do que é feito. Desta forma, você irá comprovar que os alimentos saudáveis também são muito saborosos (Obesidade infantil).
Quanto aos alimentos considerados “proibidos”, como os lanches supercalóricos das redes de junk food, os doces e refrigerantes, oriento que não é preciso privá-los totalmente. Como é o caso do valor calórico do pão e dos sanduíches prontos. Uma alternativa nestes casos é deixar de lado os recheios gordurosos, e dar preferência aos de ricota, embutidos de aves, vegetais folhosos, tomate e queijo cottage (Obesidade infantil).
Podemos contrariar os prognósticos do crescimento da obesidade no Brasil, com uma alimentação mais saudável e a conscientização da necessidade da prática esportiva desde a infância. Mas isto depende também muito do esforço de pais e responsáveis.